7 de abril de 2013

macacos me abracem

peter o.sagae... escafedeu-se!


O que as pessoas não sabem é que já fui macaco. Não em outra vida, Deus me livre de acreditar numa coisas dessas... Foi mesmo no rádio, há vinte anos, enfrentando onça no meio do mato – e, no jogo estereofônico, ela de um lado, eu do outro, alertando que, logo, logo, ia dar a pior tempestade. Só mesmo se amarrando nas árvores com cordas e cipós, nó bem forte, pra vento não levar bicho ou gente voando pelos ares. Coisa terrível! Toda a família já estava amarrada, mas, se a comadre quisesse, arrumava corda para amarrá-la também. Ninguém podia imaginar quem era o macaco na caixa do alto-falante como, na fábula, dona onça mal desconfiou da verdadeira identidade do guri disfarçado de Bicho-Folharal.


Trocando macaco por gato, coelho, raposa, esta história universal tão ao gosto brasileiro do Bicho-Folhas, Folha-Seca ou Folharascal do Monte, já foi contada por muita gente africana, europeia, espanholeta, portuguesa, costa-riquenha, mexicana, chiquitita e panchita bacana... Constantemente reencontro o macaco esperto e extravagante nos livros, como O bicho folharal, de Angela-Lago (Rocco, 2005), ou


Dona Onça é muito sonsa, de Maurício Veneza (Prumo, 2009). Nesta pequena coletânea de três fábulas, o ilustrador surpreende pelo contorno... das frases! O texto é extremamente agradável para leitura em voz alta, balançando o macaco bem humorado de fala em fala... Pula depressa o macaco pro galho, desmascarando onça que se fazia defunta: “Ué, vocês não sabem? Minha avó, quando morreu, deu três espirros. Só aí todo mundo teve garantia do falecimento.” Pula também depressa o gato que dá ares da graça na última narrativa do livro. Agora, quem gosta de texto com acentos ligeiros, vogais abertas, consoantes fortes, ritmo de baião com foxtrote e – além de tudo, pensa que é macaco na leitura para pular vírgulas, sem errar, nem tomar fôlego – você, meu amigo, minha amiga, não pode deixar de conhecer A onça e a cabaça, de Daniela Chindler com ilustrações de Mariana Massarani (Paulinas, 1998). A confusão assim começa:

O macaco, que, cá entre nós, não é flor que se cheire, se meteu numa encrenca das boas. Foi mangar da onça, apoquentar-lhe o juízo a troco de nada, ou melhor, a troco de uma piada e umas boas gargalhadas. A onça estava lá, deitadinha, tomando a fresca, aproveitando a gostosura que é o final da tarde, quando apareceu o macaco com a cabeça cheia de ideias. Ele foi logo anunciando, para quem quisesse ouvir:

__ Dizem que sou pequeno, mas assanhado como o demo. Perturbo igual mosquito no ouvido de quem quer dormir. Atazano tanto quanto marido ciumento, incomodo mais que tachinha na cadeira. A ruindade é minha vocação. Adoro mexer em casa de marimbondo, jogar água em formigueiro e perturbar onça dorminhoca.

Depois, mirou bem miradinho e tum...



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