19 de setembro de 2014

verde para ver todas as cores

Peter O.o'Sagae


“Quem espera”, diz Christina Dias, “logo vê que a cor que arromba a visão não é o verde. É o vermelho.” Pois era vermelho o fruto que se destina a chama a atenção do Uirapuru – não era, porém, macio ou maduro como qualquer pássaro poderia supor, tinha uma casca de pedra!


Uirapuru cantou e convocou para o alto o Bicho-pau que chamou o Rei e a Rainha Cupim que foram buscar o Tamanduá de Colete que, enfim, conseguiu, com o próprio peso, derrubar o fruto redondo e duro. Mas a bola como pedra não se partiu... O mistério da bola castanho-avermelhada, com ilustrações de Aline Abreu (Frase e Efeito, 2009, Jujuba, 2010) é uma narrativa em lengalenga inventada por Christina Dias, ao sabor dos contos acumulativos tradicionais, com um fraseado bonito e elegante para o pequeno leitor habituar-se com o colorido da linguagem literária.


Os animais da floresta vão se reunindo para abrir e descobrir quê fruto é esse. Pouco pode a Preguiça, também pode pouco quem tem quatro pés, Paca, Tatu-galinha, Anta ou Quati. Nem a suçuarana de pelagem vermelha que não teme confusão. Nem Jacaré-açu, Boto ou Pirarucu. Fruto redondo e duro! Bichos do ar, da terra e da água nada conseguem e o fruto castanho-vermelho vai rolando pela floresta, enrolando o leitor pelo emaranhado de traços e rastros da fauna brasileira até as mãos de uma menina Kaiapó. Ela pega do facão e, num golpe só... estará resolvido o mistério!


Nas planícies da África, contra o vento seco, crescia uma árvore maravilhosa, carregada de frutos também vermelhos, bem vermelhos, redondos como melões, suculentos como tâmaras e o aroma... Ah! o aroma das mais doces mangas. Porém, uma enorme serpente vivia enrolada ao tronco e apenas cederia passagem àquele que dissesse o nome da árvore.

O Elefante, a Girafa, a Zebra, o Macaco e a Tartaruga andavam famintos – mas, você sabe, a fome dá coragem, garra, velocidade e persistência. Um a um, eles vão consultar o Rei dos Animais que muito longe morava a fim de descobrirem o nome da árvore e do fruto cobiçado.


Bojabi, a árvore mágica, de Dianne Hofmeyr e Piet Grobler, tradução de Carolina Maluf (Biruta, 2012), é outra narrativa em lengalenga. O perigo não estava no caminho a ser desenrolado debaixo do sol, que é rei de calor, nem na força do monarca da floresta africana que é o Leão... A Zebra tropeçou na língua e disse: Bongani! O Macaco coçou a cabeça: Munjani? O Elefante, justo ele: Umfani! Quem haveria de guardar consigo e lembrar-se do nome da árvore mágica, a Tartaruga ou a Girafa? Pois saiba, o perigo à conservação da vida sempre é perder a memória!


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