2 de dezembro de 2014

e a vida, o que é?

Dezembro, tempo de verso


Na dedicatória do livro a seus três filhos, Ninfa Parreiras recorda que
O Tempo nos ensina
a fotografar as horas
a escutar os lugares
a escrever os anos
a colher com os filhos
os versos dos tempos.
E ela faz poesia com fragmentos de histórias compartilhadas no ambiente doméstico, tirando o pó das imagens que guardou em caixas no sótão da própria memória, como instantes vivos, presentes em um velho álbum de fotografias. Talvez, por isso, cada verso termine em um ponto final para separar cada coisa em sua fragrância e lugar...
“A pescaria da semana atrasada. 
O dente de leite caído.
O abraço do dia dos pais.
O aniversário do anos passado.”
E entre o tempo das coisas que são e o tempo das coisas que não voltam, cada momento amarrota o coração, diz Ninfa, com dois lagos de águas cintilantes nos olhos. Mas existe também um tempo das coisas que repetidamente ou repentinamente chegam, entre descobertas e desentendimentos, tempo bom para acertar as contas e os ponteiros do relógio. Os trinta poemas dessa coletânea são marcados pelo tique-taque cotidiano, como o achocolatado que a mão ou a mãe dissolve no leite, as brigas e brincadeiras entre irmãos, tempo de ser cada um, cada um, e tempo de ser todos juntos, uma família.


O livro é assim uma espécie de diário onde tudo se registra e cada um pode encontrar uma emoção particular. Ninguém estranhe, portanto, os versos pouco a pouco virando frases mais e mais longas a fim de estender igualmente a duração de cada minuto, mesmo pertencente a dor ou um desagrado qualquer, tempo de despedidas, tempo das pessoas que se foram...

Em seu conjunto, os poemas que começavam construídos com imagens quase inarticuladas, vão se acomodando na forma de uma breve narrativa, uma pequena crônica, silêncio que se ouve e conta no sorvete derretido, na sombra do corpo refletida no chão: tudo transformando-se conforme passam as horas do dia. O tempo, pode o leitor descobrir, é como um brinquedo que se perde, mas não se esquece, sabendo manter as cores e a magia, os sentimentos que importam. As imagens pessoais conquistam uma continuidade através da palavra. Sim, era um livro de poesia, de histórias... é agora, uma tese, quase talvez.


Um novo ano + poético para você: 2015
com Ninfa Parreiras, POEMAS DO TEMPO
il. Mariana Massarani (Paulinas, 2009).

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