O primeiro envelope da pilha foi o último a chegar.
Edições SM. Começo com três livros para pequenos leitores.
Espaguete, de Davide Calì (2008, trad. Belisa Monteiro, 2015) remete às primeiras brincadeiras com as comidas à frente do bebê. Um prato de macarrão não apenas alimenta, mas servirá de motivação para jogos com as formas e a linguagem. O fio de espaguete enrola-se no garfo como um ninho de passarinhos, ou estica-se como as cordas do violão. O fio do macarrão é como. O fio do macarrão eu como. No jogo sonoro da paronomásia, como ocorre no discurso publicitário, tudo o que antecede a conjunção comparativa ou o verbo permanece oculto. Mas a função apelativa é inequívoca, com o desenho de uma boca devoradora, ao final do livro: Como espaguete! Para alegria e alívio dos pais.
Festa à fantasia, de Inés Trigub (2007, trad. Graziela Costa Pinto, 2015) retoma um tema bastante comum dos livros para crianças: animais que se transvestem de outros animais. O efeito é o trocadilho visual, apoiado em uma frase legenda e o jogo é proposto em quatro pares de páginas. Mas... sempre aparece um mas para iniciar uma narrativa simples: a minhoca também queria ir à festa, mas não sabia que fantasia usar. Para tirá-la do buraco, do problema, da aflição, formigas enfileiradas erguem a minhoca e a ajudam transformar-se em uma centopeia. Pronto, a festa foi superdivertida...
Tá tudo bem, neném!, de Emmanuelle Houdart (2009, trad. Fabio Weintraub, 2015), resgata a fala cadenciada da antiga fórmula da parlenda, com perguntas percorrendo o cotidiano da criança, entre os objetos que lhe são próximos e um inequívoco sentimento de perda que começa a nutrir. Quem pegou minha mamadeira? E as respostas surgem regadas de conforto e seres mágicos. Tá tudo bem, neném: foi a sereia de mãos ligeiras. As ilustrações de traços edulcorados e suave colorido vão revelando o imaginário povoado da primeira infância com dragão empilhando cubos, diabinho gorducho no trono atrás da cortina do banheiro, dona unicórnio lendo os livros do neném...
Três livros para pequenos leitores, três traduções.
Recebo também e outra vez a antologia de contos selecionados e comentados por Luiz Ruffato, Leituras de escritor, com ilustrações de Mariana Zanetti em página inteira intercalando-se às narrativas ao modo de abertura (2008, 3.ed. 2015). Um parágrafo escolho, com muitos temas e imagens:
Yunque entediou-se. A que horas iria para casa? Mas Humberto bateria nele na saída da escola. E sua mãe falaria ao menino Humberto: “Não, pequeno. Não bata em Paquito. Não seja tão mau.” E não diria mais nada. No entanto, Paco ficaria com a perna vermelha pelo chute de Humberto. Paco choraria. Porque ninguém fazia nada a Humberto. E porque o patrão e a patroa gostavam muito de Humberto e Paco Yunque sofria por apanhar tanto de Humberto. Todos, todos, todos tinham medo de Humberto e de seus pais. Todos. Todos. Todos. O professor também. A cozinheira, sua filha. A mãe de Paco. Venâncio com seu avental. Maria que lava as bacias e que ontem quebrou uma em três grandes pedaços. O patrão bateria também no pai de Paco Yunque? Que coisa feia essa do patrão e do menino Humberto. Paco queria chorar. Quando o professor acabaria de escrever na lousa?
O'ABRE ASPAS* (César Vallejo, trad. Reynaldo Damazio, 2015: 95)
Oi Peter: pelo título, uma expectativa que não se realizou... Em 2010 publiquei pela Bagaco o livro Imagens da Infância e outros poemas. Tempo depois enviei exemplar para você e, desde então, aguardo algum comentário... Felicidades
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