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26 de novembro de 2024

o porteiro, os porteiros

O porteiro ainda veste camisa azul e ele se chama Celso Cícero, Eritônio, Marcos, Luciano, como aqui em meu prédio. Ou Alberto, como o personagem do livro de imagem de Vitor Rocha (Gato Leitor, 2024), ou Rodolfo, o porteiro que se descobre leitor ao ler histórias em voz alta para a criançada do condomínio de Ana Lúcia Brandão e Roger Mello (Paulinas, 1998). É evidente que estamos pensando em homens com nomes próprios e não porteiros eletrônicos, como querem alguns moradores de nossa vizinhança. Mas, quando “acaba a luz”, acaba também a cerca elétrica, o portão tem que ser aberto a arroz com feijão, no jeitinho, no empurrão.

Ah, eu gostava dos antigos porteiros com mesa na entrada e talvez tivesse eu tido tempo para descobrir um porteiro que me amava e, toda vez que chegava, ele se apressava em apertar o botão do elevador e abrir a porta.
Vi muitos porteiros com cartas e pacotes na mão, porteiro que abre a passagem para o executivo e o ladrão (ou seriam ambos o mesmo morador?). No livro de Vitor Rocha, a janela da guarita é igualmente uma representação social. Este homem negro, obeso, poderia ser alguém bastante “uniforme” em calças cinzas, porém usa um kufi, este boné curto e arredondado, sem aba, geralmente feito em crochê. Ler imagem é dar nomes aos objetos e relacioná-los à composição do personagem e nosso modo de estar frente a eles, na literatura e na vida. Alberto carrega três chaves grandes (outro truque da linguagem cinematográfica, viva Méliès) que o fazem até mesmo parecer... um carcereiro o nosso porteiro!
#intertextualidade
🧡 #quemtemquindimtem

15 de julho de 2015

o outro problema do Clóvis

Quando o carteiro chegou... 6


Sempre há algo, alguém diferente no meio da repetição. Esta é a primeira dobra que a mim se mostra, quase leitura, diante da capa branca do livro UNIFORME, de Tino Freitas e Renato Moriconi (Edições de Janeiro, 2015, 2.ed. Gato Leitor, 2019). Pinguins, aonde vão assim, sempre tão iguaizinhos no mesmo passo e compasso? Entretanto, entre eles, dentro de sua casaca, confortavelmente estranho, está um velho senhor. Puro disfarce, imitação? Algo ou alguém anda fora do padrão?


Tino vem contar a história de Clóvis, alguém como nós que nasceu livre e pelado, que aprendeu a viver camuflado e sobreviver como todo camaleão. A presença da símile, repetida como um bordão, evidencia a intencionalidade da narrativa logo de início... Clóvis não é um camaleão, mas agirá como um. Até quando? A ilustração também trabalha com a mesma figura retórica através da repetição do desenho e, como um livro-jogo, o leitor vai percebendo e procurando alguma coisa que sempre sai fora da constante uniformidade da ordem da reprodução....


Clóvis vai e vem no meio do rebanho das ovelhas, segundo os interesses e as circunstâncias, algo assim Maria vai com as outras! E Clóvis ouve dizer coisas e faz tudo igual a todo mundo, finge, esconde-se, caminha de cabeça baixa e... E jogou-se aos tubarões, macaqueou-se, dançou conforme a música... Adiantou? O destino, diz Tino, parece ter sido uma aprendizagem para tirar os disfarces, desnudar-se e seguir adiante somente com o próprio coração.

No final do livro, o leitor desdobra uma página e...


vê todos os seus bichos coloridos!

* * *


P.S. A leitura é sempre uma brincadeira por inúmeras obras e aqui desdobro a memória de alguns autores e títulos que constituem a série ou família literária de onde a produção contemporânea se cria e arroja-se em novos passos. É isto o que permite uma tradição para a literatura infantil brasileira! Saudamos Tino Freitas com suas lembranças e possíveis inspirações: O pinguim, poema de Vinícius de Moraes (1977), Maria-vai-com-as-outras, desenhos e história de Sylvia Orthof (1982) e O problema do Clóvis, livro ilustrado de Eva Furnari (1992).