O porteiro ainda veste camisa azul e ele se chama Celso Cícero, Eritônio, Marcos, Luciano, como aqui em meu prédio. Ou Alberto, como o personagem do livro de imagem de Vitor Rocha (Gato Leitor, 2024), ou Rodolfo, o porteiro que se descobre leitor ao ler histórias em voz alta para a criançada do condomínio de Ana Lúcia Brandão e Roger Mello (Paulinas, 1998). É evidente que estamos pensando em homens com nomes próprios e não porteiros eletrônicos, como querem alguns moradores de nossa vizinhança. Mas, quando “acaba a luz”, acaba também a cerca elétrica, o portão tem que ser aberto a arroz com feijão, no jeitinho, no empurrão.
Ah, eu gostava dos antigos porteiros com mesa na entrada e talvez tivesse eu tido tempo para descobrir um porteiro que me amava e, toda vez que chegava, ele se apressava em apertar o botão do elevador e abrir a porta.
Vi muitos porteiros com cartas e pacotes na mão, porteiro que abre a passagem para o executivo e o ladrão (ou seriam ambos o mesmo morador?). No livro de Vitor Rocha, a janela da guarita é igualmente uma representação social. Este homem negro, obeso, poderia ser alguém bastante “uniforme” em calças cinzas, porém usa um kufi, este boné curto e arredondado, sem aba, geralmente feito em crochê. Ler imagem é dar nomes aos objetos e relacioná-los à composição do personagem e nosso modo de estar frente a eles, na literatura e na vida. Alberto carrega três chaves grandes (outro truque da linguagem cinematográfica, viva Méliès) que o fazem até mesmo parecer... um carcereiro o nosso porteiro!
#intertextualidade
🧡 #quemtemquindimtem
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