18 de dezembro de 2015

Presentes.

2016 Melhor!


É um livro, é.
Um poema é.
Uma carta.
É também um jogo.
Tudo isso, mais um segredo.
Tão fácil PRA VOCÊ entender...


Vera Rodrigues apanhou cores, imagens, palavras, bandeiras, números, libras, outros sinais no campo fértil das linguagens, e veio revelar diferentes modos de comunicar o carinho por alguém. Pois aqui temos um texto que é distância e presença, recado e silêncio, reunião de pequenos grandes gestos entre o dizer e querer dizer sempre mais. E depois... Deixar que o outro responda, complete por sua vez a mensagem. É assim que o livro de Vera nos diverte o olhar, mas também acalma e empresta coragem – porque é o pensamento o lugar certo onde residem as nossas histórias. Para sempre.

* Texto de apresentação do livro PRA VOCÊ, por Peter O'Sagae. 



Presentes. A poesia do sorriso nas lentes da Rolleiflex, a poesia registrada através dos olhos de Xango, o mestre Fatumbi Verger que sempre se deixou guiar pelas próprias escolhas e soube encarar com serenidade os prazeres e os dissabores. Uma viagem pelo mundo de 1932 a 1946, na companhia do povo de muitos SORRISOS, uma lição em preto e branco, jogo emocional entre as teclas do piano e o tambor #editorasolisluna (2010) #pierreverger


Presentes. O conto é a forma narrativa da travessia por excelência. No caminho de Mariinha, filha dos empregados da fazenda, os muitos capins vestiam-se de plantação e pensamentos, enquanto ela vai ruminando. Havia o seu jeito de admirar a filha do patrão, menina-quase moça da cidade numa amizade mísera nas férias. Ruim, sim, é a INVEJA confundindo o coração no querer bem. #editorapeiropolis (2011) #livroobjeto #renatafarhatborges #silviaamstalden

17 de dezembro de 2015

Medo do Lobo? Não seja bobo...

Peter On Instagram


Notícias sempre chegam de outras paragens e de outros contos. A prima de mamãe tinha 7 filhos e só por muita sorte escaparam do Lobo. Mesmo morando na vila, Mamãe Cabra anda assustada, tudo pode acontecer a Lilo, Laila e Lulu... Uma história sobre antigos juízos e mudanças de hábito, com o chapéu e a echarpe vermelha de Aristide Bruant. MAMÃE TEM MEDO, de Beatrice Masini, il. Alireza Goldouzian, trad. Márcia Leite #editorapulodogato (2015)

 

Acorda o Lobo e lá vai ele, pé na estrada. Encontra um ratinho. "O senhor quer me comer?! Eu?! Mas eu sou magrinho!" - e com uma conversa fiada vão escapando também o porco-espinho, o sapo, o jabuti e hmmm, o touro! No final do caminho e ainda mais faminto, ele encontra a casa da vovó e o portão aberto... A FOME DO LOBO se sacia com bondade. Texto de Cláudia Maria de Vasconcelos, il. Odilon Moraes #editorailuminuras (2015) #literaturainfantil

 

Ninguém sabe ao certo o que aconteceu com o Lobo, mas correram com ele para o hospital onde foi atendido por uma ovelha branquinha e gentil que se derramou sobre o paciente em demasiadas atenções. O que era pura artimanha de lobo fingindo-se bonzinho, tomando remédio e até infecção sem reclamar, logo se transformou em uma insuspeitada paixão. O MAL DO LOBO MAU, de Cláudio Fragata, il. Luiz Maia #editorapositivo (2009) #literaturainfantil

16 de dezembro de 2015

Um pouco selvagem.

Peter On Instagram

Quase certo que as crianças sintam ter vindo de um lugar distante, ninguém se lembra exatamente, talvez uma floresta onde se aprendeu a falar com os corvos, a comer como um pequeno urso esfomeado e a rolar tal qual uma raposa na toca... Emily Hughes permite pensar quanto os adultos são animais estranhos, brincando com o conceito de SELVAGEM que pouco tem frequentado a literatura infantil brasileira. Ops! #pequenazahar (2015) #literaturainfantil #emilyhughes

É preciso olhar. O colecionador é quem vive preso às figuras do velho álbum de animais exóticos que cobiça, é quem vive. Preso ao grave reflexo de si em frente ao orgulhoso espelho. É preciso. Caçar e contar histórias, favorecer-se delas. Uma hora parte o homem, entretanto desperta o tigre da fotografia. O olhar que caça atravessa as sombras e as molduras do território livre da imagem, em seu enigma SELVAGEM #editoraglobal (2010) #livrodeimagem #rogermello

Literalmente, ONDE ESTÃO AS COISAS SELVAGENS. Não se faz aí uma pergunta, mas a afirmativa lembrança de que uma viva alegria existe dentro de nós. Vontade divina, instinto para ser grande... Talvez sob o domínio da imagem e uma imaginação pouco livre, as línguas neolatinas usaram compreender que as coisas remotas são *monstros*, talvez esquecidas do sentido puro do maravilhoso. Vamos deixar o rumor da festa começar. #mauricesendak (1963)

Sendak Selvagem

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Das imagens:
1. www.instagram.com/puma_balls.spf
2. www.instagram.com/barefeetpete
4. www.instagram.com/koma2taka4
5. www.instagram.com/dobrasdaleitura
8. www.instagram.com/mrmanville
9. www.instagram.com/sketchbook58
mais #mauricesendak

15 de dezembro de 2015

ABC até Z

Peter On Instagram


Primeiro o desenho. Aquele A feito o telhado de casa, o b é uma bota para calçar o pé, o C cheio de dentes para o verbo comer... Com o contorno próprio de cada letra, Weberson Santiago resgata a função original do ABC para crianças pequenas: ensinar a olhar ludicamente as formas gráficas da escrita. Simples como escorregar no escorregadoR ou manter o eQuilíbrio no alto de uma bicicleta! TIRAR DE LETRA #edicoessm (2014) #imagier #livroinformativo #webersonsantiago


Abacate, bananas, caqui, damasco, estrelas de carambola... Um abecedário poético jamais será rigoroso e Roseana Murray sabe que, antes das letras, virão sombra, cheiro, cor e açúcares escondidos numa palavra que amadurece a forma e o sabor. E inventa ela de encontrar fruta que ninguém conhece, xixá, apenas xixá para constar. E traz assaz uma flor para encerrar o olhar sobre as zínias... ABECEDÁRIO [POÉTICO] DE FRUTAS #editorarovelle (2013) #poesia #roseanamurray aquarelas #claudiasimoes


São 26 letras e um número impreciso de sons que elas representam, fazendo ruídos que mudam conforme a palavra... Silvana Tavano permite que as letras soltem o verbo, saltem as dificuldades da língua escrita, falem e apontem saídas numa atitude irreverente que não é comum nos abecedários para crianças, fazendo acontecer assim O ZUM ZUM ZUM DAS LETRAS #editoramoderna (2012) #literaturainfantojuvenil #fonetica #silvanatavano #gutolacaz

14 de dezembro de 2015

Como brincam as crianças...

Jogo de Trilhas e Textos.


O cavalinho de pau balança, um pé na psicologia, a outra ponta na sociologia do brinquedo. Crianças em casa, brincadeiras outdoor. As diferentes relações consigo e com o outro. Em nove sugestões de leitura. E possibilidades.


"Podemos olhar o brinquedo como uma ponte, um objeto de transição da subjetividade para a vida cotidiana, do mundo de dentro para o mundo de fora e vice-versa. É no brinquedo que a criança, sujeito completo de desejos e realizações, encontra luz para a elaboração de seus conflitos e de suas dúvidas. Ao brincar, a criança se mostra, revela-se com todas as suas coragens e os seus medos." Ninfa Parreiras, O BRINQUEDO NA LITERATURA INFANTIL #editorabiruta (2008) p. 41

"... o brinquedo é uma confrontação - não tanto da criança com o adulto, como deste com a criança. Não são os adultos que dão em primeiro lugar os brinquedos às crianças? E, mesmo que a criança conserve certa liberdade de aceitar ou rejeitar, muito dos antigos brinquedos (...) de certo modo terão sido impostos à criança como objeto de culto, que somente graças à sua imaginação se transformam em brinquedos." Walter Benjamin, Obras escolhidas I. MAGIA E TÉCNICA, ARTE E POLÍTICA (1928) p. 250


Com uma ponta de tristeza e desapego para torná-la em alegria e algum sentimento de eternidade. Ser criança. Detalhe da ilustração de Isabelle Arsenault para A CAIXA DE LEMBRANÇAS, de Anna Castagnoli #editorapositivo (2012) #literaturainfantil #isabellearsenault


Com boneca, boneco, badulaques, cacarecos e todas as coisas guardadas dentro mesmo do armário, closet ou guarda-roupas. Detalhe da ilustração de Andréia Vieira para BETINA QUERO-QUERO #editoradcl (2015) #literaturainfantil #andreiavieira


Com quadradinhos de papel colorido e estampado, dobrando e desdobrando flores e animais milenares em delicado silêncio. Detalhe da ilustração de Suppa para as MÃOS MÁGICAS, de Tereza Yamashita #sesispeditora (2013) #literaturainfantil #origami


Assoviando uma canção, reciclando objetos, criando heróis para transformar hábitos e ideias mundo afora. Detalhe da ilustração de Eduardo Albini no livro de imagem PEDRO PET PLÁSTICO #editoraformato (2011) #literaturainfantil #eduardoalbini


Inventando um jeito misterioso de sentir as cores do mundo quando não é possível enxergá-las todas. Detalhe da ilustração de Denise Nascimento para AS CORES NO MUNDO DE LÚCIA, de Jorge Fernando dos Santos #editorapaulus (2010) #literaturainfantil #denisenascimento


Na hora do recreio, a irreverente linha azul que escapou do caderno vai lá bater e pular corda. Detalhe da ilustração de Sílvia Amstalden para a HISTÓRIA DE UMA LINHA, de Silvana Beraldo Massera #editoraquatrocantos (2015) #literaturainfantil #silviaamstalden


Compartilhando o mesmo espaço do céu, o menino do bairro e o menino do morro. Detalhe da ilustração de Weberson Santiago, em PIPA OU PAPAGAIO, livro de imagem com roteiro de Stella Elia #devirlivraria (2013) #literaturainfantil #webersonsantiago

13 de dezembro de 2015

À espera.

Peter On Instagram

Otto Tollen tem sete anos e vive em uma linda casa branca em uma pequena aldeia no norte da Europa. Ele gosta de um monte de coisas, mas fica louco com o tempo do Natal. Será por que ele mora bem perto da casa do Papai Noel? Um conto que acende a esperança, de Paola Santandrea, il. Daniela Santandrea #editoranos (2015) FELIZ NATAL, PAPAI NOEL!

À espera. Se você fosse filho do carteiro que entrega as cartas das crianças do mundo inteiro na casa do Papai Noel, esperaria receber um presente assim? Um livro, uma história para aquecer os sentimentos de gratidão. Um dia de dezembro com Paola e Daniela Santandrea, trad. Roberto Parmeggiani #editoranos (2015) Obrigado, Simone Paulino! FELIZ NATAL, PAPAI NOEL!

À espera. O fogo sempre aceso, contudo, do lado de fora, ninguém vê... Imagine, um mapa acima da lareira, pilhas de livros, uma velha cadeira de veludo verde e uma xícara de chá. Um conto escrito por Paola Santandrea que convida a todos achegarem-se da aldeia de Rovaniemi. Com o olhar de Otto Tollen, il. Daniela Santandrea #editoranos (2015) #literaturainfantil - FELIZ NATAL, PAPAI NOEL!


11 de dezembro de 2015

Colheita de estrelas.

Peter On Instagram


"Quem responde a um menino com uma mentira age como um homem que lança uma pedra do alto da montanha [...] Lançada uma primeira pedra, esta chama outras pedras que, por sua vez, chamam pedregulhos... Quem conta uma mentira a uma criança arrisca-se a provocar uma derrocada." Aviso do mago Córdomo NO RASTRO DAS ESTRELAS, quando os três reis eram príncipes. Texto de António Torrado, il. Lélis. #paulinaseditora (2010) #literaturainfantil #antoniotorrado #lelis


Em busca da arte e do aprendizado, dialogando com os quadros de #pedroalexandrino #eliseuvisconti #lasarsegall #tarsiladoamaral #guignard #franciscorebolo #arcangeloianelli, cada palavra vai se tornando uma forma, um gesto, uma cor, uma pincelada no imaginário dos leitores. Para o cotidiano ser refeito. Com simpatia e afeto. SETE CONTOS, SETE QUADROS, de Carla Caruso e May Shuravel #editoramoderna (2014) #literaturainfantil #livroinformativo #carlacaruso #mayshuravel


"O problema existencial e filosófico com que o pequeno príncipe se vê confrontado é o do próprio isolamento da consciência no seio do universo atomizado (os planetas no céu) e o vazio (o deserto na Terra), onde inexiste qualquer possibilidade de relação." Philippe Forrest: Piloto de guerra (2013) #classicoszahar trad. Rodrigo Lacerda posfácio #rodrigolacerda #editoraautentica trad. Gabriel Perisse #gabrielperisse #pequenoprincipe #exupery O que quer dizer... cativar?

uma afeição instantânea


É interessante pensar como um dos livros infantis mais famosos e lidos no mundo, como O Pequeno Príncipe, do francês Antoine de Saint-Exupéry, é também o livro que muitos ainda não leram, ainda que venham a conhecer seu personagem e alguma dúzia de frases do celebrado autor. Uma pergunta que comecei a me fazer: como ler, hoje, as aventuras do principezinho, com o espírito livre, e o que lá iríamos encontrar?

A obra nasceu há setenta anos, por uma encomenda do editor americano de Saint-Exupéry que desejava um conto de Natal para crianças, publicado apenas em abril de 1943. Suas páginas trazem mensagens a respeito de paz e da amizade sem fronteiras, tão necessárias naquele momento, em meio a Segunda Guerra Mundial, quando o autor – que também fora piloto de avião, além de nobre e filho de conde – estava em uma visita militar aos Estados Unidos a fim de conquistar apoio contra governo nazista estabelecido na França. Este é o contexto histórico oferecendo a primeira chave de leitura aos capítulos e à melancolia que tinge o rosto do Pequeno Príncipe.

Antoine de Saint-Exupéry elegeu a forma de parábola para narrar as aventuras e dissabores do menino vestido com casaca verde azulada de botões brilhantes, como habituamos a ver nas ilustrações e em inúmeras adaptações. Cada episódio revela um simbolismo bastante eloquente permitindo aos leitores encontrarem, no texto, uma crítica tanto social, quanto filosófica a respeito de valores humanos e à manutenção da vida. Ora, os símbolos são imagens rápidas e persuasivas; ainda que não consigamos decifrar seus significados, estabelecemos com eles uma afeição instantânea. E isto é válido para todas as personagens, mesmo a rosa, a raposa, ou a serpente dourada na areia. Algo nessas imagens despertam simpatia e fascínio. E sabiamente o autor articulou sua história para o público de crianças e de adultos igualmente. Esta estratégia faz realmente parte do jogo literário.

Cabe ao leitor acolher a parcela do símbolo que mais lhe agrade. E temos aí, então, as reflexões em uso e igualmente os desvios a partir de um livro como O Pequeno Príncipe. Esta obra sentimental teve seu caráter modificado ao longo dos anos, por inúmeros intérpretes como pela imposição da moda e do marketing – antes, os concursos de beleza e agora as estantes de autoajuda –, o texto muitas vezes lido fragmentariamente como alimento para a chamada criança interior... É interessante pescar essas idealizações, vulgarizando as mensagens do autor. Contudo, não deveríamos lamentar qualquer noção equivocada de infância perdida. Crescemos, ocupamos outra posição perante o mundo e os livros. O que não se poderia esquecer é a criança leitora de hoje em diálogo com a obra. Que divertimento ou aproveitamento moral o Pequeno Príncipe tem para compartilhar com elas, setenta anos depois?

Peter O. Sagae
Doutor em Letras (USP) e comentarista de literatura infantil
Na colaboração de Gabriela Romeu para a Folha de São Paulo
Saiba por que 'O Pequeno Príncipe' tem apelido de 'livro de miss'
Online 27.04.2013

8 de dezembro de 2015

Ler e ouvir Alice Vieira.

Peter O. Sagae*


Portas fechadas, corredores sem cores e as sombras a esconder os olhos de uma presença invisível e misteriosa. Talvez viesse a ser a própria Alminha-da-Senhora, ou a Outra-Pessoa de quem ninguém ousa falar. O silêncio retumba mais que outro ruído qualquer — e invade a infância de Marta. Seria preciso a ela permanecer imóvel como uma boneca de porcelana posta à exibição para as visitas posto que os seus passos pequenos, por mais leves que fossem, despertam sempre a casa e as crises de Flávia que-todos-diziam-ser-sua-mãe. Fato. A menina se convenceu de que houve uma troca, a acontecer coisas de mau destino que fez Flávia correr ao hospital como quem busca remédios para a dor de cabeça e, de lá, no entanto, retornaria com uma criança nos braços. Flávia jamais dizia seu nome, jamais saía de casa, nem durante as férias.
« Leonor costumava dizer que eu tinha nascido em berço de ouro, ao mesmo tempo que enchia a minha cabeça de pavores com a Alminha-da-Senhora querendo sair das paredes assim que anoitecia. Lembro-me de ter passado muito dias a espreitar pelo buraco da fechadura dos quartos fechados para ver se descobria, nalgum deles, o tal berço de ouro. Mas o ângulo da visão era fraco, e sempre o mesmo. Acabei por desistir. De resto, de que me serviria um berço de ouro? De certeza não iria poder brincar com ele, como acontecia com as bonecas de porcelana que o pai me dava no Natal e no dia dos meus anos. »
Envolta por uma atmosfera de segredos e histórias, iniciadas muito antes de seu nascimento, Marta refugia-se nas cantigas e nas aventuras do Príncipe Graciano pelas sete partidas do mundo tiradas pela velha e calorosa Leonor. Havia um tempo em que diligências cortavam planícies pelos corredores da casa e seu pai não era Martim, mas Touro Sentado, em conversações sobre alianças e emboscadas com o Coiote Vermelho. Leonor contava o passado quando sentia saudades ou quando se zangava com Flávia...

Em um texto que reflui tempos e nomes, Alice Vieira orquestra sombras e personagens com acordes distintos, humanamente possíveis, belos e densos, na pauta de sua escrita. O fraseado é todo melódico e até mesmo as palavras mais estranhas ou expressões desconhecidas acomodam-se dóceis e ingenuamente bem humoradas. É neste embalo que lentamente o prisma de emoções adquire movimento e refratando vai um espectro de luzes sobre os moradores, uns vivos e outros ausentes, da casa. Variados enredos ressoam iluminados pela maestria da autora e articulados pela narração de Marta, em diálogo muito próximo com alguém que não se vê (“Sabes como era Leonor: às vezes as palavras saíam-lhe da boca e, quando ia por elas, já elas estavam ditas.”) — e o leitor bem poderá sentir-se tentado a ocupar o incômodo lugar de ouvinte igualmente observado pelos olhos vigilantes de Ana Marta.

* Extraído de Dobras da Leitura n. 50, nov. 2007. O Vitrina Mundi: Portugal. Alice Vieira. OS OLHOS DE ANA MARTA, capa: Yili Rojas (Edições SM, 2005).


Ler e ouvir Alice Vieira. “Quando estou triste, gosto de ter flores perto de mim. Mas não é preciso que tenham perfume ou que sejam daquelas de caules muito altos, que dormem na vitrine das floras. Só preciso que estejam perto de mim. Que eu olhe para elas e sinta que estou tão acompanhada como se elas fossem pessoas.” Pois família é uma sintonia delicada, releio hoje ROSA, MINHA IRMÃ ROSA (1979) #editorapositivo (2014) #alicevieira #odilonmoraes


Ler e ouvir Alice Vieira, mais o verso de Adriana Calcanhoto e o rumor de Gil Vicente por uma estrada que são as muitas casas de Branca. “De repente caíam em cima de mim todas as lembranças daquele dia na Feira – ontem? há uma semana? há um ano? sonhei? –, eu a perguntar porque a minha mãe não respondia... e toda a gente a dizer coisas sem sentido.” MEIA HORA PARA MUDAR A MINHA VIDA #editorapeiropolis (2014) #alicevieira #annacunha

4 de dezembro de 2015

tem texto leve

No Instagram


Tudo que é belo, ardente e temeroso parece vir do céu, como o sol, a lua, um lampejo, os temporais e os anjos também... Muitas perguntas dançam do pensamento ao verso que Leo Cunha iluminou sobre o papel, numa delicada chuva de descobertas que caem ludicamente dentro da aquarela de Cris Eich. A MENINA E O CÉU #editoraftd (2014) #litetaturainfantil #poesia #leocunha #criseich


Tem texto leve. Não faltam histórias aos poetas, mas talvez uma preguiça venha até eles e deixem escapar os personagens através do vento, como o esboço de um enredo que jamais vai encontrar o final da escrita. Para onde vão? Essas histórias, conta Xan López Dominguez, há muito tempo vivem em sua lembrança... MINHAS HISTÓRIAS PERDIDAS #editoramelhoramentos (2011) #prosapoetica #xanlopez


Tem texto leve. Porém, longo. Tal como são as percepções, quando adentram a memória de Pê. E o vasto mundo que ele descobriu. Ainda na infância, ainda rio. Dono de afetos e árvores que ele mesmo redescobre. Em cada palavra e lance do coração desbravado em imagens, repetições, nomes e o desafio de ser o ser... PÊ E O VASTO MUNDO #editorapositivo (2014) #prosapoetica #pauloventurelli #fereshtehnajafi

2 de dezembro de 2015

Lago de Imagens.

Peter On Instagram


A narrativa segue pra lá e pra cá, todos sabem, é um conto acumulativo e Angela faz João trocar, trocar, trocar sabiamente um cavalo por um burrinho e este por uma cabra, por um porquinho sossegado, por um pássaro... mas, oh! Nem o narrador teve tempo para completar a frase e o pássaro voa! JOÃO FELIZARDO, O REI DOS NEGÓCIOS #cosacnaify (2007) #literaturainfantil #angelalago saiba [+] dobras da leitura: quando menos = mais


Ao virar a página, um vento carrega Psiquê para o castelo no interior de uma floresta que esconde olhos, simetrias e sonhos nas asas de uma borboleta. É preciso segui-la... Um violoncelo a um canto qualquer, a cama do casal é o profundo oceano na noite, e labirintos mais não dizem por onde chegou o amado. PSIQUÊ #cosacnaify (2009) #mitologiagrega #literaturainfantil #angelalago saiba [+] dobras da leitura: minuetos a passos rápidos da alma


Este é um livro de qualidades poéticas desafiadoras que contém outra figura de construção ainda mais poderosa no movimento de busca da moça pelo jovem e dele para ela, atravessando páginas de beleza, xadrez e ruelas: é o quiasmo, a visão dos caminhos que se unem e separam-se no centro espiritual da obra. O CÂNTICO DOS CÂNTICOS #angelalago (1992) #cosacnaify (2013) #livrodeimagem saiba [+] dobras da leitura: gavota e acompanhamento de imagem